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domingo, 15 de janeiro de 2017

EUCATÁSTROFE



O lado bom do sofrimento

Segundo Matos, Eucatástrofe é um termo criado por J.R.R Tolkien que se refere à súbita mudança de eventos no final de uma história que garante que o protagonista não seja a vítima de um terrível,  iminente e provável destino. Ele formou a palavra adicionando o prefixo grego "Euro", que significa "bom", uma "catástrofe", a palavra usada tradicionalmente na crítica literária para se referir ao resultado clássico ou conclusão de um teatro. Para Tolkien, o termo parece ter um significado para além do tema que significa a sua forma. Com efeito, percebe-se que tal termo pode ser perfeitamente aplicado na vida das pessoas, ou seja, fora das telas. Porém, ainda não conseguimos de forma geral dar um significado positivo às catástrofes que ocorrem em nossas vidas, deformamos os acontecimentos de modo a não utiliza-las como combustível tanto para edificação da fé, quanto para nos tornarmos pessoas  melhores.
            Claro que no momento em que as pessoas são acometidas por algum tipo de sofrimento, não param para analisa-lo, pensam somente em ficar livres daquele terrível incômodo, seja ele de origem física, psíquica ou social. Com efeito, tudo se torna pior quando depositamos todas as nossas frustrações e dores em um Ente superior que obviamente não cremos com convicção. Afinal, como pode Deus em sua infinita perfeição permitir que soframos tanto? Como podemos entender que pessoas extraordinárias, passem por sofrimentos terríveis, e Deus não faz absolutamente nada para ajuda-las?
            Segundo a Fé professada pela Igreja de Cristo, como orienta o Catecismo, essa desordem que dolorosamente constatamos não vem da natureza do homem e da mulher, nem da natureza de suas relações, mas do pecado. Tendo sido uma ruptura com Deus, o primeiro pecado tem como primeira consequência à ruptura da comunhão original do homem e da mulher. Suas relações começaram a ser deformadas por acusações recíprocas, sua atração mútua, dom do próprio Criador transforma-se relações de dominação e de cobiça; a bela vocação do homem e da mulher para serem fecundos, multiplicar-se e sujeitar a terra é onerada pelas dores de parto e pelo suor do ganha-pão.
A fé em Deus Pai Todo-Poderoso pode ser posta à prova pela experiência do mal e do sofrimento. Por vezes, Deus pode parecer ausente e incapaz de impedir o mal. Ora, Deus Pai revelou sua Onipotência da maneira mais misteriosa no rebaixamento voluntário e na Ressurreição de seu Filho, pelos quais venceu o mal. Assim, Cristo crucificado é "poder de Deus e sabedoria de Deus. Pois o que é loucura de Deus é mais sábio do que os homens, e o que é fraqueza de Deus é mais forte do que os homens" (1Cor 1,25). Foi na Ressurreição e na exaltação de Cristo que o Pai "desdobrou o vigor de sua força" e manifestou "que extraordinária grandeza reveste seu poder para nós, os que cremos" (Ef 1,19-22).
Você tem dois caminhos a seguir, utilizando-se da liberdade que o próprio Deus lhe concedeu; pode aceitar o sofrimento como um carma, se fazer de vítima todo o tempo, matar ou tentar se matar, ou literalmente se matar, ou buscar enxergar seus pesares como algo edificante, tornar do sofrimento um aprendizado, e usa-lo como combustível para a fé.
O Sentido das coisas nunca está nelas próprias, um bom filme, por exemplo, nunca se justifica em si, mas sim fora dele, no público que ele vai atingir. O sentido das escolas nunca está nelas, mas fora delas, ou seja, nos alunos que se formam para enfrentar o mundo.  Com efeito, o sentido do sofrimento não está nele, mas sim fora dele. Destarte, lembre-se que por possuir o livre arbítrio, o sentido externo pode te levar a morte não só física como espiritual, ao contrário, assim como Cristo se rebaixou, sofreu, se humilhou, e hoje está ao lado de Deus Pai, também podemos seguir seu exemplo e transcender o sofrimento para a edificação não do corpo, mas da alma. Com efeito, lembrem-se que o sentido de nossa existência, não está nela, mas fora dela, e para os que creem, todo esse sofrimento pode nos levar a um lugar onde não há nem tempo nem espaço, não há sofrimento, inveja, ganância em qualquer esfera,  ou seja, com convicção respondo, pode nos levar à Deus.
Como disse Santa Terezinha do menino Jesus, que por sinal sofreu terrivelmente com tuberculose, e em uma de suas cartas registradas, relatando suas conversas com Deus, disse que se fosse necessário sofrer eternamente, e se com isso conseguisse salvar uma única alma que seja do inferno, se fosse essa a vontade de Deus, assim ele o fizesse. Vejam bem como Santa Terezinha via o sofrimento, sempre de forma transcendente.
Em um colóquio de despedida com Madre Inês de Jesus, em 17 de julho de 1897, Santa Teresinha confidenciava: "Passarei o meu Céu fazendo o bem sobre a Terra"01. Com efeito, tão logo ela morreu, começaram a aparecer milagres operados por sua intercessão. Teresinha foi vista em vários lugares do mundo, aparecendo inclusive para soldados nas trincheiras, durante a Primeira Guerra Mundial. Sua fama espalhou-se e começou a popularizar-se a famosa "novena das rosas", durante a qual as pessoas relatavam ter recebido rosas como sinal da proteção de Teresinha. O Carmelo de Lisieux não sabia mais o que fazer com tantas cartas: chegava-se a receber 500 por dia!
Concluo, dizendo, que não desanime frente um problema, dor ou doença, quer entender bem qual é o verdadeiro sentido do sofrimento, siga a vida dos Santos, pois, nenhum deles, para alcançar o que há de melhor “A Eternidade”, passou por teologias de prosperidade neste mundo. O filme da vida também tem como nas eucatástrofes de Tolkien a grande redenção do bem no final, todavia, só pode vir de Deus.


1.       Santa Teresa do Menino Jesus. Obras completas escritos e últimos colóquios. 1. ed. Paulus: São Paulo, 2002. p. 916.






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2 comentários:

  1. Muito bom saber que tenho um irmão tão iluminado a escrever palavras tão sábias afim de que a sociedade pare e reflita a respeito da vida em si. Parabéns, mano!💕

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