Na alegoria do mito da caverna de
Platão; Sócrates convida a Glauco a imaginar a existência de uma caverna, onde
os prisioneiros desde a infância; estando com as mãos amarradas, observavam
imagens distorcidas em forma de sombras, projetadas por uma fogueira. Toda a
ideia de realidade deles vinha absolutamente sob as impressões que as sombras,
também dos ecos e ruídos gerados fora da caverna. Um dos prisioneiros acaba
sendo liberto, e pouco a pouco descobriu que todas as imagens, sons e ruídos
gerados enquanto prisioneiro eram apenas cópias imperfeitas do que ele conhecia
de uma pequena parcela da realidade.
Sabendo do que se
tratava, o prisioneiro liberto, poderia voltar para a caverna e contar para os
seus que eles estavam sendo enganados, ou viver livre sem interferir no destino
deles. Com efeito, caso optasse por voltar à caverna e contar a realidade
aos seus; correria o risco de ser taxado como louco. Se você estivesse no lugar
do prisioneiro liberto o que faria? Sairia em liberdade, desbravando mais e
mais os segredos do mundo ou voltaria para a difícil tarefa de tentar abrir os
olhos dos demais encarcerados? Bem, confiante em tudo que os grandes santos
doutores da Igreja ensinaram; sabendo que o sentido da realidade descoberta não
está nela, mas fora dela, retornaria então na difícil tarefa de convencer os
demais prisioneiros a se livrarem das “verdades” projetadas a eles.
Não há fórmula
perfeita para alcançar o entendimento mínimo deste mundo. Deve existir um
equilíbrio entre razão e Fé. Lembrando que, a razão só foi possível, porque
algo superior a ela permitiu sua existência. Por não existir uma forma
perfeita, precisamos no mínimo ter cautela na análise das coisas. Grandes
mudanças em um curto espaço de tempo não podem ter suas consequências testadas;
o que torna este ato temerário. Imagine se o prisioneiro livre voltasse de uma
vez só e contasse tudo que ele observou no mundo exterior? Não seria diferente
o resultado; seria mesmo chamado de louco. Agora, imagine se ele, com tempo,
voltasse, abordasse um a um com cautela, trouxesse fatos, informações, e sem
pressa, de louco, passaria talvez a libertador daquela gente, ou de parte dela.
Acredito como
conservador, que nossa caverna não é muito diferente da Alegoria de Platão.
Podemos hoje ver o sol, a lua, as estrelas, as pessoas, as sombras, as águas,
as comidas e seus sabores, e mesmo assim estar completamente alheios à
realidade. Existe uma espiral do silêncio; ouse sair dela e será visto como
louco. O que devemos fazer então? Ficarmos presos nela e não se indispor com o
encarcerador, ou quebrar este silêncio com o som da realidade e aguentar as consequências?
Respondo, dizendo, precisamos quebrar com esta espiral, mesmo que isso custe
caro. Existirão aqueles que continuarão se conformando com o que veem; com o
que lhes é imposto como verdade; porém, existirão aqueles que querem ver as
coisas como elas realmente são, isto já basta para mim.
Não tenha preguiça
intelectual; a sua vida e a das pessoas que você ama depende disso. Não aceite
mudanças bruscas. A humanidade está aí há séculos. Aprenda a conservar o que
deu certo; e quaisquer soluções mirabolantes e revolucionárias tem que ser
colocadas em cheque; pois você não sabe o que essas soluções podem lhe trazer
de prejuízo no futuro próximo. É proibido mudanças? Claro que não! Apenas
analise com cautela as mudanças; e quando você tiver certeza de que aquilo não
será danoso; aí sim, mude. Segundo o grande filósofo Edmund Burke, as inovações
são essenciais para o desenvolvimento humano, contudo, deve ser observada sob
uma ótica cuidadosa, de forma gradual, considerando a tradição, a prescrição e
a ordem.
O mundo dentro da
escatologia cristã é uma prisão. Cristo veio para este mundo e se deu como
prisioneiro, morreu e ressuscitou para salvar a todos nós. Se a prisão está
neste mundo, a libertação está fora do mundo. Então o que vemos de concreto
aqui nesta realidade, o que envolve todo o material pode ser relacionado com os
vultos projetados, ruídos e ecos da caverna da Alegoria de Platão? Respondo,
dizendo, que sim. Pensando bem, o mundo é realmente uma prisão! Estamos em
universo não infinito, com mais de 100 bilhões de galáxias; incalculavelmente
isolados de tudo. O máximo que conseguimos foi pisar na lua; enviar algumas
sondas, tirar algumas fotos de planetas como marte, saturno e etc. Você
realmente acredita que a terra é o centro do universo? Acredita realmente que tudo que
vê e toca neste local corresponde a verdade? Não precisa ser muito inteligente
para perceber isso.
Não acredite em
propagandas (marxismo, comunismo e sociedades secretas e etc.), ou seja, no que
te prometem para o amanhã, principalmente um amanhã que nunca chega. Deus já
cansou de nos mostrar o caminho para sairmos da caverna. Já nos deu todas as
ferramentas possíveis e impossíveis para que mesmo não enxergando, palpando,
sentindo, possamos descobrir onde está a verdadeira morada. Este mundo está aí,
e é o que temos, porém, não tem como chegar do lado de fora dele
(metafisicamente falando) sem passar por ele. Querem destruir a cultura cristã;
único meio de passarmos por aqui tendo o mínimo de condições de alcançar o
Reino de Deus. Concluo, dizendo, enquanto estivermos aqui, precisamos assim
como fizeram os mártires da Igreja, lutar para que as pessoas realmente possam
enxergar além deste mundo. A missão é fácil? Absolutamente não.
PLATÃO. A
República. (trad. Enrico Corvisieri) São Paulo: Nova Cultural, 1999. (Col.
Os Pensadores).
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